Volta para CLDF
RETORNO À CÂMARA LEGISLATIVA DO DF
VOLTO PELOS ELEITORES, NÃO PELA PRESIDÊNCIA
Raimundo Ribeiro nasceu em Piracuruca, Piauí, em 2 de agosto de 1957. Casado há 30 anos, pai de três filhos, Ribeiro foi, durante um ano e meio, secretário de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania do DF, uma pasta criada na atual gestão que englobou nove outras pastas do GDF. Eleito deputado distrital pelo PSL, Ribeiro deixa a secretaria para cumprir seu mandato como parlamentar. Bacharel em Direito, ele garante que sua bandeira como deputado será a da Cidadania. Em entrevista exclusiva a Tribuna do Brasil, o deputado fala sobre Executivo, Legislativo e planos para 2010. E afirma: "Não tenho interesse em disputar a presidência da Câmara".
Tribuna do Brasil: Por que deixar a secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos para voltar à Câmara Legislativa?
Raimundo Ribeiro: Essa volta já estava prevista desde quando assumi a secretaria, no início do governo. Meu acordo com o governador Arruda era me tornar secretário e tão logo eu me desincumbisse de todas as missões que ele havia me confiado, eu retornaria à Câmara. Até porque, não fazia sentido eu realizar tudo o que foi proposto e continuar.
Isso quer dizer que agora está tudo às mil maravilhas na secretaria? Que tudo já foi feito?Há muita coisa para ser feita ainda. Mas eu tinha uma missão dentro da secretaria que já terminou. Há algum tempo, inclusive. Quando eu já estava prestes a sair, surgiu o problema dos cemitérios. Então, o governador me pediu ajuda para solucionar a questão. Passou a fiscalização dos cemitérios para a secretaria, como função da Cidadania, e realizei várias reuniões com os agentes funerários, com o proprietário da empresa que administra os cemitérios. Antes mesmo da viagem do governador aos Estados Unidos, comuniquei a ele que estavam resolvidas as questões e que iria retornar à Câmara Legislativa.
Houve um pedido para que o senhor continuasse na secretaria?Houve uma aceno do governador Arruda sim. Mas depois ele concordou e pediu para que eu o ajudasse a encontrar um nome para a pasta. Tive duas missões nesse processo: indicar meu sucessor e conversar com a deputada distrital Luzia de Paula, minha suplente, que estava na Casa desde o começo da nova legislatura. Hoje mesmo (1º de agosto) entreguei ao governador o decreto de exoneração para que eu possa, na segunda-feira (hoje), assumir o mandato, oficialmente.
Conversar com a deputada Luzia de Paula significa o quê? Acomodá-la no Executivo como uma recompensa?Não há recompensa. A deputada vai sim assumir um cargo no governo, na área social, já está certo. O governador ainda está vendo em qual cargo. Mas ela, com sua grandeza, vai para o Executivo para ajudar, não como uma recompensa.
O senhor disse que, além de acomodar a deputada da base no governo, recebeu a missão de sugerir nomes para a pasta. Que nomes são esses?O governador Arruda foi muito generoso quando me deu a possibilidade de indicar nomes para a minha sucessão. Mas as pessoas me pediram sigilo, para evitar qualquer tipo de especulação.
Mas o nome da presidente da OAB-DF, Estefânia Viveiros, já se tornou público...Nós conversamos com a Estefânia, mas ela tem dificuldades porque ela tem mandato. A OAB-DF passou por uma crise e, além do mais, ela é advogada. Não dá para ser secretário pela metade. Eu abandonei meu escritório, por exemplo. Não tem como pedir para ela abandonar a profissão. E ser secretário exige dedicação integral. Como secretário, eu trabalhava de domingo a domingo.
Se o senhor então está descartando que Estefânia pode aceitar o convite, crescem especulações acerca de outros nomes, como o corregedor do GDF, Roberto Giffoni e até o deputado distrital Paulo Roriz. Como eu nasci dentro do grupo do Arruda, as pessoas que são minhas são dele. Como já te disse, não posso divulgar os nomes que indiquei, tampouco interferir na escolha, afinal, o governador me pediu sugestões, mas a decisão é dele. Para assumir a secretaria é preciso ter um perfil. Não podemos pensar só na área de Justiça, ou só na de Cidadania. A pasta exige um perfil muito específico. É preciso ser uma pessoa do mundo jurídico, que tenha vinculação com o segmento de direitos humanos, histórico de trabalho na área de cidadania. Não dá para entregar a secretaria na mão de uma pessoa apenas por uma escolha política.
Então, a indicação de Paulo Roriz não foi sua?Eu entendo que o governador deseja um perfil técnico. Não vou revelar nomes, já disse. Mas é fácil concluir que pessoas poderiam assumir a secretaria. Será reconhecido no meio jurídico, tem trabalho na área de direitos humanos e cidadania. A pasta não é isolada, Justiça, Direitos Humanos e Cidadania estão juntas. Estou aguardando uma decisão do governador. Se ele entender que deve ser outro nome e não um dos que eu indiquei, evidentemente ele vai anunciar alguém que ele queira. Mas ele me permitiu sugerir.
Durante sua estadia no GDF, o senhor foi o grande apaziguador de todos os embates. Esteve à frente de questões importantes como a regularização dos condomínios, a retirada dos ambulantes da área central de Brasília, foi a pacificador no embate com os quiosqueiros e o governo. E na Câmara Legislativa, qual será a sua bandeira?Ao longo da minha vida eu fui construindo bandeiras. Os condomínios é uma bandeira que continuarei defendendo, agora com mais tranqüilidade, porque encontramos uma forma de regularização. Os quiosques, os ambulantes são trabalhadores e tem o meu respeito. Mas o respeito ao cidadão, ele como ser mais importante de todo o processo social. Não existe governo se não tiver por objetivo, o cidadão. Então, a grande bandeira será a cidadania. Logicamente que atuando em vários setores.
Qual será a grande discussão do semestre?O Plano Diretor de Ordenamento Territorial (PDOT). Será uma grande discussão do semestre. É onde Brasília será desenhada para os próximos dez anos e eu faço questão de trabalhar nesse projeto. Dentro da bandeira da cidadania, quero uma Brasília para os idosos, para os deficientes, para os jovens. Assim será pautada a minha atuação na Câmara.
E a eleição da Mesa Diretora? Não será uma grande discussão?A questão da presidência da casa deveria ser uma construção, um consenso. São 24 parlamentares que têm de ser conduzidos, é claro. Mas deveria ser um grupo, depois outro grupo, e assim por diante. Não vejo porque embates em uma questão como essa. Mas é difícil convencer as pessoas de que ser presidente da Câmara Legislativa é apenas um cargo executivo dentro de uma casa colegiada, muitos querem esse cargo.
E o senhor, quer?Eu fujo do padrão tradicional que se tem. Assumir um cargo executivo estando no Legislativo faz com que o deputado fuja de sua função original. Eu considero um encargo, tanto que apresentei um projeto para reduzir o mandato da Mesa Diretora de dois anos para um ano, porque você não pode sacrificar metade do mandato de ninguém pra ficar cuidando apenas dos interesses da Casa. O contato com o eleitor, com o cidadão, essa deve ser a atividade principal de um deputado distrital. Aí, dentro desse contexto, eu não tenho nenhum, projeto individual.
Então, o presidente da Câmara Legislativa, Alírio Neto, pode ficar despreocupado?O deputado Alírio tem uma visão. Eu tenho outra. Aliás, cada parlamentar pensa de um jeito. Hoje eu saio da secretaria e vou para a câmara para que, as segundas e sextas-feiras, dias em que não há sessões plenárias, eu possa estar nas ruas, atendendo as pessoas. E isso sim, me trará resultados melhores. Repito que considero um encargo assumir um cargo executivo em uma casa colegiada.
E de onde surgiu essa ameaça, de que o senhor queria impedir a reeleição da Mesa Diretora e ser o presidente da Câmara Legislativa?Nunca ninguém ouviu isso da minha boca, que eu queria ser presidente. O governador Arruda destacou duas pessoas que ele gostaria que presidisse a Câmara: eu e o Alírio. Quando houve, em 2006, a definição dos nomes, nosso nomes ficaram em foco o tempo inteiro. Eu dizia que era novo, que não queria presidir uma casa onde estava acabando de entrar. O Alírio foi o escolhido, mas, de lá para cá, o que mais se fala é que eu quero ser presidente. Isso não é projeto pessoal, não quero ser deputado para trabalhar para a Casa. Ou você faz bem uma coisa, ou faz bem outra. E meu objetivo é trabalhar atendendo, ouvindo as pessoas, e no debate parlamentar.
Mas se o senhor não sai para disputar a presidência da Câmara, não sai para levantar nenhuma bandeira polêmica, porque deixar a visibilidade que a secretaria te deu e seguir para o Legislativo?Não estou em busca de promoção. E ser deputado e virar secretário também não deve ser encarado como uma promoção. Sou muito cobrado pelos meus eleitores, e são cobranças de gente que são donas do meu mandato. Meus apoiadores, gente da OAB de Taguatinga, dos condomínios. Até porque eu fui pedir apoio dessas pessoas para ter mandato. Eu passei um ano e meio em uma secretaria e consegui uma visibilidade muito boa, mas eu não posso me esqueci de que eu fui o penúltimo a ter uma vaga na Câmara. Eu só ganhei em voto do Batista das Cooperativas, eu fui o 23º, com 8303 votos, de um partido pequeno. Eu tenho consciência que visibilidade não significa voto.
O senhor falou sobre vir de um partido pequeno. Houve uma aproximação muito grande do senhor com os deputados do PT, neste ano. O senhor pensa em deixar o PSL?A minha aproximação com o PT, principalmente com o deputado Chico Leite, se deve ao fato de que somos grandes amigos, antes mesmo de ele virar deputado. A deputada Érika Kokay é uma pessoa que eu aprendi a admirar. Mas admiro outros parlamentares como Milton Barbosa, que conheço desde quando era delegado, Benício Tavares, pelo seu trabalho em favor dos deficientes, enfim, a minha relação com as pessoas e muito boa e facilitada pela natureza pessoal. Mas eu integro o PSL e pretendo permanecer. Acho melhor estar em um partido pequeno que em um partido grande, onde a atuação é mais difícil.
E para 2010, qual a sua intenção?Eu acho que o caminho natural seria me candidatar a deputado distrital novamente, até para consolidar meu trabalho, porque estou atrasado. Durante um ano e meio não pude ser deputado. E em 2010, quero submeter meu trabalho à avaliação dos que confiaram em mim uma vez. Ficarei esses dois anos e meio para isso
Então a sua ida para a Câmara é sem volta?Sim. Por duas razões: primeiro porque eu preciso cumprir o mandato, e depois, por já ter cumprido as metas que o governador Arruda tinha me colocado. E eu sou cobrado pelos eleitores. Volto para permanecer.
Fonte : Tribuna do Brasil
Data : 04 de agosto de 2008